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O trabalho remoto de psicólogos com pessoas com deficiência intelectual na pandemia

Em março de 2020, em função da pandemia causada pelo novo coronavírus, a sociedade mundial se viu na necessidade de isolamento social e no Brasil não foi diferente. A Escola, enquanto espaço que tem em sua base a atuação coletiva, migrou sua ação para as redes de conexão de internet e gestores escolares e professores tiveram que procurar caminhos possíveis que garantissem acesso às aulas e atividades escolares de forma remota.

Um estudo realizado pela Fundação Carlos Chagas em Julho de 2020 contou com 1.594 respondentes, sendo eles professores da Educação Básica atuantes em classes comuns com alunos público-alvo da educação especial; atendimento educacional especializado (AEE); escola ou classe bilíngue para surdos; e escola ou classe especial, indicou que 92,7% dos respondentes informaram estar realizando atividades remotas na pandemia com os alunos público-alvo da Educação Especial, sendo que as maiores dificuldades relatadas pelos docentes foram: a) trabalhar com esse grupo a distância, e b) estimular a participação deles no grupo.

A reivindicação pela formação adequada para lidar com as demandas da inclusão escolar e da educação especial também surge na atuação do psicólogo escolar. Ao buscar entender a contribuição da Psicologia para o desenvolvimento daqueles que fazem parte do espaço escolar e, consequentemente, dos processos de transformação, nos colocamos frente ao desafio de pensar em práticas que promovam o desenvolvimento de todos os sujeitos que o frequentam.

Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa de iniciação científica que objetivou refletir sobre as dificuldades e facilidades do trabalho remoto com pessoas com deficiência intelectual. Devido a pandemia de covid-19, os cinco encontros realizados ocorreram na modalidade remota, via plataforma Google Meet.

Utilizamos a contação/produção de histórias como um instrumento mediador para mobilizar o sistema psíquico, possibilitar ressignificações sobre o vivido e potencializar o desenvolvimento dos participantes. Para tal, evidenciamos a promoção e reconfiguração dos significados e sentidos na criação de situações sociais de desenvolvimento que preconizem a comunicação e a socialização de experiências

Participaram seis adultos diagnosticados com deficiência intelectual, que frequentam uma Organização da Sociedade Civil que presta serviço de Apoio à Vida Adulta, com programas que buscam apoiar a inclusão social, localizada na cidade de Campinas/SP. A análise se sustentou nos pressupostos teórico-metodológicos da Psicologia Histórico-Cultural, sobretudo os de Vigotski.

Os resultados indicam que a dificuldade de comunicação, de compartilhamento de significados e de manuseio à tecnologia são obstáculos para o desenvolvimento de pessoas com deficiência. Entretanto, conclui-se que a atividade de contar e ouvir histórias potencializa espaços de desenvolvimento e de partilha de sentidos e significados, sem negação das diferenças e necessidades adaptativas, mas enquanto possibilidade de construção conjunta de caminhos possíveis para uma inclusão efetiva.

 Psicología, Conocimiento y Sociedad, volume 12, número 2, 2022

AUTORAS

Aline Cristina Ferreira
Juliana Soares de Jesus
Vera Lucia Trevisan de Souza

Imagem capa: foto de Sigmund na Unsplash

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