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A ilusão do sucesso: nossa obsessão pela instantaneidade e a cultura da comparação

Todos os dias, de maneira incessante, me percebo sendo empurrada em direção a um conceito distorcido de sucesso.

Muitas vezes percebo que nesse empurrão, acabo sendo levada a acreditar que o sucesso é uma conquista única e exclusivamente relacionada a números – seja o número na conta bancária, o número de seguidores nas redes sociais ou o número de realizações na carreira.

Essa obsessão pelos números nos conduz a objetivos que, no final das contas, possuem uma ênfase exagerada na instantaneidade e na busca por gratificação e reconhecimento imediato.

Será que essa busca desenfreada pelo sucesso está nos levando pelo caminho certo?

Na sociedade digital, onde informações e estímulos nos cercam a todo momento, é fácil cair na armadilha da instantaneidade. Queremos resultados rápidos e visíveis, o que nos leva a escolher caminhos mais curtos em vez de abraçar jornadas mais longas e significativas.

A busca incessante por likes, compartilhamentos e comentários nas redes sociais é um exemplo claro disso. Muitas vezes, valorizamos mais a aprovação virtual do que a construção sólida de relações pessoais ou o aprimoramento das nossas habilidades.

Essa busca desenfreada pelo reconhecimento imediato também tem implicações profundas em nossa saúde mental. Quando nos comparamos constantemente com os outros e nos sentimos inadequados por não alcançar o mesmo sucesso aparentemente instantâneo, adoecemos. Cada um ao seu tempo, sendo impactado de maneiras diferentes, mas adoecemos.

Estamos constantemente bombardeados por notícias, atualizações, posts, e-mails e mensagens. E você, postou? Fez vídeo? Foi àquela palestra? E àquele show?

Essa avalanche de informações cria um desafio adicional: a dificuldade de discernir o que é realmente relevante e importante para nossas carreiras e vidas.

Somos pressionados a estarmos sempre conectados, atualizados e informados sobre tudo. No final das contas, ficamos fadigados. Nos sentimos esgotados pela quantidade esmagadora de dados e não conseguimos mais distinguir entre o que é vital e o que é supérfluo.

Aí chega o Setembro Amarelo. Todos “se preocupam” com a saúde mental. E lá vamos nós, mais palestras, lives, eventos…

💬 “Faça terapia!”, disseram. Como se fosse algo milagroso. A psicóloga aqui fica como? 🤡

💬 “Cuide da sua saúde mental! Ninguém e nada é mais importante que você!”

E a melhor de todas:

💬 “Fale! Você precisa procurar ajuda!”

Nós precisamos realmente buscar o equilíbrio em nossas vidas. O sucesso não deve ser definido apenas pelos números, mas sim pela realização pessoal, pelo crescimento constante e pelo impacto que podemos gerar ao nosso redor.

Precisamos conseguir discernir o que é realmente importante para nós.

Mas isso demanda um movimento, um esforço gigantesco em pausar na avalanche de informações e tirar momentos de reflexão sobre nossos valores, objetivos e prioridades. Precisamos nos perguntar: o que é genuinamente significativo para nossa felicidade e bem-estar, mas acima de tudo: precisamos ter condições para isso!

Caso contrário, será apenas mais uma demanda frente ao mundo de demandas que já temos.

Quais os espaços que você conhece que realmente valorizam as pausas? Quantas pessoas de fato relatam estas possibilidades e em quais contextos culturais, educacionais e socioeconômicos, elas estão inseridas?

É tempo de construir vidas mais significativas, relacionamentos mais autênticos e uma cultura que valoriza o que realmente importa. É hora de repensar nossa relação com o sucesso e buscar uma abordagem mais saudável e equilibrada para a vida.

Mas nada disso é possível sozinho. Transformação efetiva, demanda esforço coletivo.

💡A imagem de capa deste artigo é da obra “A traição das imagens”, do artista surrealista René Magritte, produzida em 1929. Nela está escrito em francês “Ceci n’est pas une pipe” que traduzido para o português significa “Isto não é um cachimbo”.

Percebam, realmente não é um cachimbo, é a representação de um cachimbo. Utilizo-a aqui como um convite provocativo para que você reflita sobre aquilo que está convencionado a chamar de sucesso.

É sucesso mesmo ou apenas a representação de um tipo de sucesso?

2 comentários em “A ilusão do sucesso: nossa obsessão pela instantaneidade e a cultura da comparação”

  1. Muito provocativo seu texto Aline. Estamos fadados a aprovações nos diferentes contextos da vida, seja nas amizades, no trabalho, com nossos parceiros…
    É preciso o olhar atento e consciente sobre as nossas verdadeiras necessidades. Estou seguindo meu verdadeiro querer ou apenas induzido a querer algo ditado como sucesso pelos outros.
    E infelizmente essa necessidade de aprovação se inicia bem cedo, reforçada com expressões vistas como positivas, como por exemplo: Nossa, que desenho bonito! Quando nos expressamos de forma rasa com as crianças, elas cristalizam aquela ideia. Poxa, para meu desenho ser aprovado pelo adulto, preciso sempre desenhar corações. Desenhei desta vez e ela disse que está bonito.

    1. Muito obrigada! Você trouxe um ótimo ponto, desde crianças experienciamos estas validações que vão limitando nossa compreensão sobre muitas coisas, dentre elas o sucesso.

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